FESTCINE AMAZÔNIA, MITO E REALIDADE

FESTCINE AMAZÔNIA, MITO E REALIDADE

Por *Alejandro Bedotti

A única coisa que o ser humano produz, além de material orgânico e lixo, é pensamento, cultura.
É cultura transformar a natureza. E em esse pensar está a arte. A arte pode mitologizar a realidade emprestando-lhe os traços culturais de quem cria.

Havia um mito em nossa cidade, criado a partir da chegada de seres não muito bem informados sobre a questão do pensamento humano. Dizia-se: aqui não há cultura. Deste modo criou-se o mito da cidade inculta. Assim como a educação a arte está inserida na cultura. Pode-se dizer que não há, desde aquele olhar, arte em determinado momento, embora seja isto muito discutível. Mas nunca se pode afirmar que não há cultura. Se não houvesse, não haveria, necessariamente, ninguém. Estaríamos numa paisagem erma e sem vida.

A arte acontece, por seu curso, fora dos grandes teatros, fora dos grandes centros. Como dissemos acima, a arte é parte da necessidade humana de pensar e agir. Sem ela o ser humano não é humano. Todos nós cometemos arte. Pode-se afirmar que a arte é o sentido do belo. O belo é o que o pensamento humano procura a cada instante porque o belo é bom.

Isto posto encontramos que a arte é necessária à vida humana porque nela está seu próprio cerne, o belo como produto final do pensamento. Encontramos esses traços no dia a dia, na decência dos trabalhadores, no nobre sentimento fraterno, na confiança nos outros, na honestidade enfim, na beleza do ser. Como corolário da beleza, encontramos as expressões artísticas. No teatro, na dança, na pintura, na poesia. As artes interagem complementando-se a cada momento. O dadaísmo queria juntar todas numa única linguagem e não deu certo. Elas podem estar juntas,uma dentro de outra, mas não mescladas a ponto de perder sua integridade gestual.

O século XX trouxe o cinema e, posteriormente, o vídeo. Nossa cidade, é claro, também encontrou no cinema e no vídeo, a sincretude necessária às artes. No cine/vídeo encontramos todas as artes convivendo de forma bela e criativa.

Voltando ao mito da cidade inculta, encontramos a V versão do FESTCINE AMAZÔNIA. Numa mostra impecável, que apresentou talentos de várias partes do país, tivemos nós jurados, uma empreitada delicada e que muito exigiu de nossos humildes conhecimentos sobre arte. Foram horas de debate onde encontramos obras de várias tendências estéticas, prevalecendo a criatividade e o belo como máximo ponto do pensamento humano. O mitológico, voltou a ser natural. Nunca se pensou uma Porto Velho com um festival de tamanha categoria. Não havia estrelões (ninguém precisa) havia criadores com obras vigorosas, robustas, poéticas, leves, que nos embarcaram por quatro dias no sonho da arte. Platéia cheia, espectante, solidária e carinhosa que cresceu a cada momento. Arte que jorrou pela tela do cinema, envolvendo a todos no mito cultural de recriar a natureza.

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