Por mais que passe o tempo,
que eu viva essas outras mesmas coisas,
ou outras diferentes coisas –
se eu quiser ser otimista –,
por mais que eu envelheça,
amadureça, azede ou adoce,
eu sempre lembro de uma cena,
uma vez em que fui rejeitado
por um semi-pós-adolescente
bem gostosinho e bem burguesinho,
mas que não tinha nenhum valor
assim valoroso pra mim,
uma vez em que, contrariando a importância
do momento e das minhas reais
fundas vontades,
eu cheguei em casa quase de madrugada,
sentei e chorei, chorei quase aos soluços,
quase intenso, mas chorei sincero,
eu sabia e me dizia, eu chorei não por ele,
aquele adolescentezinho bem gostoso,
eu chorei por mim, por esse sozinho mumificado
que eu sou,
foi por essa alguma sempre mesma razão que eu chorei,
e por mais que passe o tempo,
eu sempre volto àquela cena,
me questionando, me questionando... em busca
da mesma funda razão que eu não defino,
querendo, sei lá, talvez o fim
desse quase choro,
à espera da lágrima inteira, inundante,
que me afogue e me mate de vez... mas
por mais que passe o tempo,
essa lágrima não vem, esse sozinho estagnado
não chora e não morre... e
como renascer sem morrer?
(encontrado entre os pertences de um professor assassinado em Curitiba. Autor desconhecido)

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