Minha Mãe, e uma grande lição

Minha Mãe,
Um vínculo que ao longo dos tempos classificamos como amor, é o elo mais forte e poderoso que nos liga.
Amor, esse sim não acaba nunca, podem até nos separar, mas dar fim a ele, isso jamais, essa foi à maior lição que recebi: o amor.
Poderosa! Foi uma mulher que amou acima de todas as coisas, teve dois homens na vida, mas para o segundo se entregou totalmente e o amou ao longo de quase cinquenta anos.
Por amor, foi capaz de se desvencilhar de filhos e dar a esse homem outros filhos.
Amou como nunca vi ninguem amar.
Davam-se bem em tudo, mantinham a mesma religião, gostavam do samba, adoravam Clara Nunes, ouviam como ninguem aquelas modas de viola de raiz cantadas por Milionário e José Rico, Belmont e Amarai, Pedro Bento e Zé da Estrada, só não suportava a bebida, por essa ela brigava, apanhava, chorava e sofria. Talvez tenha sido sua maior rival nos cinquenta anos de vida, mas seu amor era tanto que ela acreditava que um dia isso seria superado e foi, tardiamente mas foi.
Amava a mãe, mas condenada pelas irmãs, que não viam CORAGEM em seus atos e a julgavam, não dava satisfação, fosse o que fosse, ela sempre voltava para os braços do seu amado.
Criaram todos os filhos e se estes foram ou não prejudicados, se carregaram traumas, se mantinham seus medos, isso não interessava, nada que a própria vida não mediasse e curasse, acima de tudo estava o amor e por ele valia tudo.
Acho que entre as flôres, ela era a mais bela, se arrumava, soltava os cabelos e dançava a noite inteira, nos braços daquele que era seu homem. Uma garnde mulher.
Trabalhava, era uma lutadora. Cultivava seus santos, adorava o mar e sonhava com os dias melhores que iam chegar e confesso, eu nem sei se chegaram, pois no meio do caminho tinha um avc e esse sim lhe trouxe grandes sequelas, no entanto, permaneceu unida, firme e forte ao seu propósito de amar. Era tão cheia de vida que as limitações impostas pelo avc lhe corroiam, no entanto nunca esteve só, ele se manteve lá, sempre, ao seu lado.
Adorava ser dona de casa, nunca a vi reclamando que não gostasse de lavar roupa, fazer comida, de limpar o chão, nunca a vi reclamando de nada disso, sofria apenas com a bebida.
Minha mãe amou tanto e acreditava tanto no amor que nunca vi ou ouvi ela se opor a nenhum relacionamento lá em casa: Não case! Separe! Esse fulano não presta! Nunca ouvi! Pois ela acreditava era no poder do amor.
Viu casamentos desfeitos, viu as filhas sofrerem, mas acreditava que a esperança só termina quando o amor acaba.
Por amor aguentava sogra e por amor superava as crises geradas pela bebida.
Ensinou pra gente um pouco de tudo e um pouco do nada, ensinou que na vida, temos que correr atrás e ela corria. Aprendemos pelo exemplo a distinguir o bem do mal e mesmo sabendo que o mal estavisse ali ao seu lado, ainda assim, ela nos contrariava e hoje eu sei: era amor.
No leito de morte, ele retorna, debruça ali e chora, e pede pra ela voltar, implora pra ela acordar... eu sei que era amor.
Agora ela não volta.
Mas uma lição ficou e tomara que todos consigam ver isso, para que possam entender que o Amor está sempre acima de tudo.
Levou com ela os sonhos e a certeza de que esse amor continua, seja lá onde for.
Não consigo aqui, mesmo sentindo falta, mesmo sentindo um oco eterno, ainda assim não consigo vê-la infeliz. Num diagnóstico final, quem matou minha mãe foi o coração: grande e cheio de tanto amor.
Eu seria completamente egoista se não aceitasse isso...
Ogum cadê Iansã?
- Ela foi pro mar, virou aquela sereia, é nossa Iemanjá, é nossa guerreira e só agora a gente descobre sua verdadeira missão: Ensinar sobre o amor, minha mãe amou durante toda sua vida e foi feliz, digo que foi, pois todos passaram pela sua vida, mas o único que ficou e esteve firme ao seu lado, foi quem sabe, seu grande e único cúmplice de tudo....seu grande amor, a quem ela fez meu pai.
Obrigado mãe por essa lição!

Comentários

Unknown disse…
Que lindo o que você escreveu!...

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