Adeus minha linda e querida avó!

Ja passavam das 4 horas quando o telefone tocou e eu sabia, era o prelúdio de mais uma aviso, era o anúncio de mais uma partida, mais uma baixa em nossas vidas, era a vovó que ja não estava mais entre nós.
Minha irmã, chorando disse: Ela sofreu tanto...e depois fiquei eu pensando que sofrer mesmo é chegar aos 98 anos...
Com certeza essa é a última da nossa família a alcançar esse feito...e ai viajei em tudo aquilo que minha avó representou na minha vida. Posso dizer que até os 15 anos acreditei que ela fosse uma velha bruxa, "aquelas que pegam criancinha pra fazer mingau" ou daquelas que ficam vigiando se o dedinho engorda pra poder jogar no tacho de agua quente, o fato é que para justificar os desentendimentos entre eu e o marido da minha mãe, a culpa sempre caia nas costas da vovó "mamãe era daquelas que odiava a sogra", inventava histórias de abandono e perversão de minha avó comigo, era a avó que abandonava o neto no quintal, era a avó que preferia a "neta", era a avó que atribuia ao neto todo o insucesso do filho e enfim era a verdadeira avó má. Nunca soube a verdade, mas a partir dos 15 anos comecei conhecer minha verdadeira avó, com meu próprio olhar e passei a amá-la como nunca, afinal se me causou ou não perverções, isso é algo que não me trouxe prejuizos de ordem psicológica. Vivi até os 17 vendo minha avó vindo buscar a neta preferida pra férias em sua casa, vi a avó preparando o enxoval de todas as netas e ao 18 anos fui pela primeira vez na casa da avó. Amei aquela mulher pequenininha e sofrida, vivia para ajudar os filhos, era aposentada e fazia doces para vender em sua cidade, comprará ha muito sua última morada(no cemitério) e que eu nunca quiz ir conhecer, dividiu o que tinha entre dois filhos e nunca ouvi ela falar do passado, nunca me falou sobre meu avô e adorava viver http://xn--s-vga.Na cidade Patrocínio Paulista era conhecida como Dona Fiinha, para os mortadores fazia doces, matava e limpava frangos e tambem emprestava dinheiro, uma velhinha de 98 anos agiota, nem da para acreditar nisso. Morreu de sofrimento sim, mas por ter que no final dos seus dias ir morar com um filho, deixou sua cidade, seus amigos, centenas de devedores, foi um anjo que ajudou com que os taxistas de Patrocínio pudessem trocar seus carros, acabou dando dinheiro a todos eles, pois no final dos dias ainda foi traída por muitos, que iam a sua casa e lhe roubavam, sem ela perceber suas promissórias. Vovó era uma agiota de 98 anos que emprestava dinheiro com promissórias...Não definitivamente vovó era um anjo que distribuia dinheiro...
Na infância lembro dela chegando em casa, com cortes de tecido , com potes de doces, garrafas de pimenta e um remédio para minha irmã (memoriol) dizia que ajudava no sucesso com os estudos, nunca soube da veracidade disso, não sei se ela não tomava ou se o remédio não ajudava. Quando minhas filhas nasceram, cuidei logo para que conhecessem a Bisavó, pois é algo raro e em 2001 fizemos uma visita todos juntos a sua casa, e naquele dia vi naquele piso brilhante seus melhores tapetes, vi em sua cozinha os melhores panos de prato e na mesa a melhor comidinha que alguem poderia fazer. Samara e Samia já eram mais altas que a bisavó e ficou marcado, registrado esse encontro....que pena vó que voce se foi...
Fica uma saudade imensa e uma certeza: nesse céu estavam precisando de uma doceira, estavam precisando de uma senhorinha para matar e tratar frangos, estavam precisando de alguem para fazer empadinhas, com certeza estavam precisando....talvez de um anjo que emprestasse dinheiro com notas promissórias, de uma avó que torcesse pelos netos, pelos filhos , pelos amigos e talvez tenha esquecido de si própria. Vai vó, com certeza algo nos confortará e um dia quem sabe juntos, ainda riremos de tudo isso...."me querina bem que serelem não custa"... nunca soube o que queriam dizer essas palavras, que um dia li numa carta dela ao filho...talvez ele tenha entendido, e definitivamente nunca entenda........

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